quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Rubén Blades e a salsa das letras engajadas






















Por Daniel Mendes

Em 1948 chegava ao mundo no Panamá, um dos futuros criadores da salsa politizada e consciente. Vindo de uma família de excelentes músicos não profissionais o jovem Rubén Blades, com apenas 18 anos, iniciou sua carreira de cantor. Não demorou muito para começar a lançar seus discos. O primeiro saiu em 1968, dois anos depois de se lançar como cantor de uma nova salsa, que conquistaria rapidamente o Caribe, a América Latina e todo o planeta salseiro.

As letras políticas e de forte engajamento social de Blades chamou bastante a atenção da crítica musical latina. Com a credibilidade cada vez mais em alta, decide tentar a sorte em Nova Iorque, cidade que vivia na virada da década de 60 para a de 70, um momento de efervescência musical e artística enorme, e no qual, a música latina e caribenha representava a novidade sonora em maior ascensão. Entretanto, a força da consciência política de suas letras, gerou um estranhamento no público nova-iorquino, que estavam acostumados com a salsa mais alegre e dançante, com letras mais frágeis. Percebendo a falta de aceitação, Blades, frustrado, decidiu não perder tempo e deixou a ilha de Manhattam o quanto antes para voltar ao Panamá.























Em 1973, Blades decide voltar a Nova Iorque para mais uma tentativa de fazer sucesso na industria fonográfica local.  Para se sustentar, arrumou um emprego na companhia de discos latinos Fania. Ao longo do tempo, foram percebendo as qualidades musicais do jovem panamenho, e ao se revelar cantor de salsa, Blades teve sua primeira oportunidade neste selo. Porém, logo de imediato, teve que lutar para impor seu estilo de escrever e criar, sempre com suas letras politizadas. Blades não havia desistido de criar uma salsa consciente, que falaria não somente ao corpo, mas também ao cérebro do público. Nem o mercado fonográfico foi capaz de mudar o ponto de vista deste grande músico caribenho.

O ano de 1975 se tornou marco na vida de Rubén Blades e de todos os salseiros de todo o mundo. Isso porque, foi o ano em que Blades foi apresentado a um outro gênio criativo, politizado e rebelde da música caribenha, Willie Colón. Ambos eram diretamente contra a dura Lei dos guetos nos Estados Unidos, fato que os aproximaram. A parceria que firmaram a partir da segunda metade dos anos 70, foi determinante no novo caminho que Rubén Blades tomaria em sua carreira.






Willie Colón e Rubén Blades deram uma maturidade exata para a salsa. Com o tempo, o selo Fania, que antes não aceitara a direção política deste tipo de salsa, se viu obrigada a apoiar, pelo fato de que Blades e Colón haviam se tornado estrelas da música caribenha.

Apesar do sucesso e das boas vendas de discos, os conflitos na Fania não cessaram, o que fizeram Blades por fim a parceria com Colón e deixar o selo no ano de 1983.  Nesse mesmo ano, vai para a Elektra, uma importante gravadora especializada em rock. A partir de então, cria um novo grupo, o Seis del Solar, e goza de uma liberdade musical nunca antes vivida, aproveitando a chance para explorar novas possibilidades musicais, suprimindo os metais (instrumentos de sopro) e introduzindo os sintetizadores (que estava sendo bastante utilizado pelas bandas pop americanas e britânicas nos anos 80). Blades persiste com suas letras fortes e engajadas, passando a denunciar as condições de vida dos pobres e a atacar os ditadores da América Latina.























Com o sucesso da carreira mais do que cristalizado, Blades decidiu que já era o momento de encarar uma atividade política e se candidata às eleições presidenciais panamenhas do ano de 1994, logo após a queda do ditador Noriega. Rubén Blades não foi eleito, ficou em terceiro lugar nas eleições, posição que surpreendeu todas as expectativas. Se o Panamá perdeu um bom presidente, isso nunca saberemos, mas que a salsa ganhou um músico definitivo para a história do gênero, ah isso nós teremos certeza absoluta, sempre quando ouvirmos a bela Yo puedo vivir del amor.